domingo, 5 de janeiro de 2014

Crianças

Tem aquela galera que dá graças à Deus pelo que faz, né? "Na verdade essas coisas que eu faço vêm de Deus, eu apenas as executo...". Dizer isso é mais audacioso do que assumir as coisa que faz – pô, o que eu faço são criações divinas! Já tem os que desprezam o que fazem, à procura de um elogio que supere a falsa expectativa:
_Olha o que eu fiz, tá uma merda, né?

Dá vontade de dizer:
_Você tem que cuidar das coisas que cria. Você não gosta das coisas que cria?
_Gosto...
_Então?... As coisas que você cria vêm de vários cantos. Quando não são de ninguém é por isso que elas são suas. Você tem que fazer as coisas serem de ninguém. Como se faz isso? Misturando-as, nas mais diversas matizes. Quanto mais misturadas, mais de ninguém elas serão. E quanto mais de ninguém, mais de todos elas serão. – Já me disseram isso, na verdade. “Você é responsável pelas coisas que cria”. Eu até briguei com ele, por não entender. Ele tava me falando de arte pública.

A arte pública é tão esperta. Ela sabe brincar com vários e diversos. Porque ela chama pra brincar junto. Já ouvi outra pessoa dizer também que "o ator de rua é diferente do de teatro burguês. O ator de rua não é bom quando é virtuoso. É bom quando provoca as pessoas a fazerem teatro junto com ele". Acho que foi algo assim que meu velho estava conversando com o véi-do-cabelo-branco. Velhos jovens, criadores do Movimento Escambo Livre de Rua, movimento de quem quer ser dele.

E é na brincadeira. Eu só sei criar quando brinco. Quando desperto minha criança e vou fazendo e cuidando as minhas crianças  seres de se criar. A gente cria brincando e cuidando.

Se eu só fiz uma coisa, eu tenho que cuidar é dessa. É que nem uma pessoa. Se só uma pessoa quis ser sua. Pô, só tem ela. Ela é a única opção e a única chance. Chance de quê? Aí depende da sua verdade. Mas o desprezo é sempre mentira. É ignorânça. Não é aprendizado. Gostar se aprende, convívio. Se você tá esquentado, deixa ela começar a te provar pelos cantos. À mostra, camada por camada vai esfriando junto com a atmosfera. É tipo comer uma canjica (obs: quando servida num prato). Bem quentinha, a gente começa pelas beiradas.

E você faz o mesmo. Tanto pra ela quanto pra você, é a única chance de se fazer realizar. E não se engane: se são várias, é uma de cada vez. “Uma graça de cada vez”, ensina o palhaço. O cérebro humano é assim. Quem sabe um dia eu encontre um paradoxo que valide o ‘ménage’. Deve ser só fetiche mesmo...

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